quarta-feira, 25 de abril de 2012

O VELHO SOLITÁRIO - O conto que eu não conto


De: António Sérgio Mateus Elias
antoniosergioelias@gmail.com


 O VELHO SOLITÁRIO – O conto que não conto

            Eram sensivelmente 11h30m, do dia 25 de Abril de 1937, quando nascia o menino Joaquim. Nascendo no único quarto de uma humilde casa, onde seus pais o recebiam, com toda a sua humildade, com a alegria de ver a magia a acontecer, desejando através dos olhos envolvidos de lágrimas, um futuro cheio de coisas boas.
            A vida desta família, foi sempre vivida com o esforço de ter, mesmo com as dificuldades da vida, a harmonia, a felicidade e a união, sempre conseguida através do esforço de todos os elementos, principalmente da mãe Maria e do pai Manuel.
            Os anos passavam e, com a velocidade um relâmpago, o pequeno Joaquim foi para a escola. Com os seus 6 anos de idade, lá foi ele vestido com a roupa que Maria lhe fazia, na sua velhinha Singer, pois o dinheiro era pouco e, foi sempre a forma de estarem na vida, pois além de não terem rendimentos para comprar roupas iguais a outras crianças, tinha o Joaquim, tudo aquilo que os outros não tinham, FAMÍLIA UNIDA e riqueza humana.
            Com o decorrer do tempo, todas as barreiras da vida foram, por eles, ultrapassadas com mais, ou menos dificuldade, até que o Joaquim chegou ao ensino superior. Seus pais lutaram para o conseguirem, para poderem dar ao filho, tudo aquilo que não tiveram para eles, sendo por isso uma grande luta, para tentarem, finalmente sentirem o sabor de vitória.
            Joaquim entrou na Faculdade de Direito em Coimbra em 1956, a ansiedade era grande, no entanto a certeza de conseguir esse desejo de ser advogado, esteve sempre presente, porque o Joaquim sempre foi um aluno exemplar, mesmo pertencendo aquela família que ajudava com gosto, para atingir o objetivo de todo o agregado familiar.
            Estava-se no ano de 1958 e, uma contrariedade surgiu, seu pai Manuel, falecera, andava ele no 2º ano de direito. A mãe Maria, ficou desamparada e sozinha, fazendo contas à vida, como poderia ela, continuar a pagar os estudos ao seu filho. Joaquim, sentindo e, tendo a consciência das dificuldades, pensou em desistir dos estudos, pois não conseguiria ver sua mãe em tal situação. Proposta essa que sua mãe não aceitou e, faria tudo o que estivesse ao seu alcance, para conseguir ver seu filho formado e advogado, como a vitória que gostaria de dedicar ao seu falecido marido.
            Maria dividiu-se em várias tarefas para o conseguir e, só mesmo com a sua força o ia conseguindo.
            Hoje, 25 de Abril de 2012, Joaquim tem 75 anos e, recorda tudo o que passou até ao presente. Recordou com lágrimas no rosto, seu pai, sua mãe que iria a falecer no ano seguinte de sua formatura (conseguindo o seu objetivo de ver o filho advogado). Tudo lhe passou pela cabeça, os bons, os menos bons e todos os outros momentos de sua vida. Pensava: meus pais tudo fizeram por mim e, pensava na falta de Estado na ajuda àqueles que tiveram tantas dificuldades para o conseguirem, tendo sido sempre, cumpridores das suas obrigações, tanto como pais, como cidadãos. Tinha a consciência dos tempos difíceis, onde a liberdade, a democracia não existiam, para que de uma forma merecida, tivessem tido o apoio que deveriam ter tido. Mas hoje, onde a democracia, a liberdade e tudo o mais que se apregoa, Joaquim olha para o lado e o que vê? – Solidão completa.
            No decorrer da vida, Joaquim chegou a casar e ter a sua própria família, com dois filhos. A mãe de sus filhos, morrera de acidente de viação, tendo Joaquim vivido sua vida, com um esforço emocional muito grande. Devido à situação do País, seus filhos emigraram, o mais novo está na Alemanha e, o mais velho nos Estados Unidos.
            Sua reforma, não sendo das mais baixas, tinha sido cortada pelas medidas que se conhecem, mas a solidão existia e a tristeza morava em seu coração.
            Questionava-se do papel do Estado! As dúvidas eram muitas, pois sentia que antes , a justificação seria o regime, mas que sentiu os fortes laços de união, transmitidos por Manuel e Maria, seus pais. Agora, depois de tantas dificuldades, com outro regime, Joaquim sente, SOLIDÃO, continuando a ter dificuldade em saber onde o Estado entra na participação social aos seus constituintes.
            Joaquim chora, por seus filhos estarem longe, por seus pais, por recordar momentos, mas igualmente chora por se sentir, SÓ.


FIM